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Drik Barbosa, empoderamento, promiscuidade, Mulher-Maravilha e o short curto

Mulher-Maravilha/Reprodução: Warner Bros

Depois de assistir ao filme da Mulher-Maravilha e ouvir o verso da Drik Barbosa em Poetas no Topo 3.1 [mais uma vez]; ficou ainda mais pertinente em mim falar sobre as mulheres, sobre feminismo (na visão leiga de um homem) e sobre empoderamento. Pois bem, comecemos pelo filme e sua importância: Mulher-Maravilha é o primeiro filme baseado em quadrinhos de super-heróis com uma protagonista mulher - e a representatividade não para por aí. Já que a própria personagem foi criada num contexto para ser a antítese ao padrão de vida que as mulheres viviam a 76 anos atrás. E com maestria a diretora Patty Jenkins transmite essa mensagem de empoderamento durante o filme. Mostrando uma mulher forte, que não tem vergonha de suas roupas e nem precisa do aval de outro homem para usa-las, uma mulher que não está na posição de donzela em perigo - e também uma mulher que não é masculinizada por ser uma guerreira, Diana (Gal Gadot) no filme tem várias camadas enquanto mulher - algo que já é contra muitos blockbusters que colocam as personagens mulheres com pessoas bidimensionais. Ela questiona o ódio de sua mãe pelos homens, questiona o que é ser mulher numa sociedade em que não há espaço para mulheres questionarem; ela questiona as vestimentas que as mulheres são condicionadas a usar - quando a Mulher-Maravilha chega em Londres no filme, até questiona o por quê das mulheres andarem de mãos dadas com homens.

O filme volta 100 anos no tempo pra mostrar o ridículo da sociedade machista, num tempo que como dito acima as mulheres não tinham voz ativa na sociedade. Em determinado momento do longa, Diana entra em uma reunião do congresso e todos os homens questionam: "o que uma mulher tá fazendo aqui?"; e o mais legal (e irônico) é que esta mulher é a única que sabe como agir, o que fazer e como fazer - como se os homens naquela sala questionassem o fato de uma mulher "saber das coisas". E este é um tema que é repetido várias vezes pelo filme, o homem se sentir impotente ou até inútil perto de uma mulher - já que até a própria heroína diz que "homens são essenciais para a reprodução, mas não necessariamente para o prazer".

E voltando a falar da Drik Barbosa; no seu verso em Poetas no Topo ela se afirma uma Estrela Além do Tempo [fazendo uma referencia ao filme Estrelas Além do Tempo, que conta a história de mulheres que foram responsáveis pelo programa espacial da NASA]. Se colocando na linha de frente da batalha contra o machismo; assim como a Mulher-Maravilha entra no front sem pestanejar, a MC também assume esse papel de "soldada" e diz ser a "vacina contra o machismo". Em suas letras Drik Barbosa sempre trás figuras femininas negras poderosas, reforçando mais ainda mulheres fortes para mais e mais pessoas se inspirarem nelas. É uma artista que luta pelo empoderamento das mulheres a cada letra. E antes do importante verso da MC no projeto de cyphers Poetas no Topo; Drik Barbosa já havia trazido questionamentos fortes a cultura machista na música Madume do Emicida: "Feminismo das preta bate forte, mó treta Tanto que hoje cês vão sair com medo de bu-uh Drik Barbosa, não se esqueça Se os outros é de tirar o chapéu, nóis é de arrancar cabeça" - veja mais.


Drik Barbosa na SPFW/Reprodução: Instagram
  

Agora chegamos no ponto deste texto: o quão importante é ter uma Mulher-Maravilha como a heroína mais poderosa dos cinemas, como é importante esse filme ter feito mais de US$ 700 milhões na bilheteria mundial e o principal, porque é tão importante a Mulher-Maravilha ser tudo isso usando um short curto. E não é que estou levando isso para o lado sexual da coisa, mas o que quero dizer é; não tem problema nenhum uma heroína que luta contra demônios e salva o mundo usar roupas curtas (se ela se sente feliz assim), sem se preocupar em ser "promíscua" - seja lá o que isso for - ou ser rotulada de puta. Infelizmente grande parcela da nossa sociedade ainda só vê essa dicotomia que a mulher ou é santa ou puta. Os padrões que o sistema capitalista vende para sociedade - responsáveis pelo racismo institucional [leia mais] e por modelos de beleza que transformam mulheres em objetos, propagando e “legitimando” comportamentos machistas que permeiam entre homens e mulheres, reforçando cada dia mais uma cultura de segregação, desigualdade e ódio. Um sistema falho que repudia vestimentas e não comportamentos que ferem os direitos humanos; colocando mulheres na posição de vítimas ao mesmo tempo que são a "causa" destes atos horrendos.

E o X dessa questão é; assim como na arte onde expressamos e sentimos a verdade. Em nossas relações sociais não deveria ser diferente. Se a Mulher-Maravilha e todas as Mulheres-Maravilhas do mundo querem usar seu short curto, ou vestido longo; calça jeans ou saia justa. Quem somos nós homens para julgar as Amazonas de Temiscira e também as guerreiras do nosso mundo? Assim como é importante que tenhamos uma Menina Super Poderosa negra, um Lanterna Verde gay [um Sense8 que vai voltar em 2018 pra concluir a história 💗]; nossa sociedade necessita de uma mulher poderosa que está muito acima de padrões sociais, ou melhor que veio para quebra esses padrões; sem se importar com o que a sociedade acha de sua roupa.  

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